Por conta da tocha olímpica, apagaram a chama de um dos mais belos animais brasileiros
![Onça Juma abatida por um tiro de pistola](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/jumamorta-650x339.jpg)
Por Ana Alencar e Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Símbolo da fauna brasileira em situação gravíssima de extinção, a onça Juma, um dos poucos remanescentes da espécie, foi abatida no grande circo olímpico armado para demonstrar ao mundo o quanto e como o Brasil atua na preservação das nossas espécies animais.
Escolhida para ser fotografada junto à tocha olímpica, sedada e acorrentada, Juma, como todo animal silvestre diante de tantas pessoas, agiu como tal, reagiu a todo aquele alvoroço, atacou o militar que a conduzia e foi morta a tiros de pistola.
![Juma no evento olímpico no Amazonas (foto deJair Araújo/D24)](https://www.ambientelegal.com.br/wp-content/uploads/onca_juma-410x683.jpg)
Mais uma morte absurda, diante de tantas outras, criminosas, que temos presenciado nessa inglória corrida olímpica.
Ciclovias que caem matando pessoas, destruídas pela previsível ressaca do mar. Lixo e peixes mortos nas áreas de competição, esgoto sendo despejado em praias e mar aberto, usinas de tratamento de esgotos funcionando pela metade, resgate de preso com tiroteio no hospital de referência para o atendimento aos jogos… e outros tantos atos criminosos de desrespeito à natureza, à população brasileira, aos turistas e aos desportistas de todo o mundo.
Uma olimpíada, que deveria elevar o nome do Brasil no cenário esportivo internacional, é hoje a vitrine de nossa patética incompetência, de nossa vergonhosa corrupção, da farsa em que todos vivemos, do país do faz de conta afundado na criminalidade e esmagado pela mais nababesca e descompromissada burocracia do planeta. Da geração de dirigentes não dão a mínima para o contribuinte que lhes paga o salário, ou mesmo para o esporte…
A pobre Juma morreu por ser o que é. Por ter sido usada fora de seu meio de convivência, por pessoas irresponsáveis e imprevidentes. Qualquer amador da esquina imaginaria o que ocorreria quando alguém com uma tocha se aproximasse de um felino silvestre…
O irônico é que a Onça foi criada em cativeiro “como medida de preservação” e, na pequena oportunidade que teve, fugiu e atacou os soldados que a tratavam como mascote…
O Exército Brasileiro resgata dezenas de onças, anualmente, contribuindo para a preservação da espécie. No caso presente, porém, incorreu no equívoco de levar ao evento um animal que obviamente não estava preparado para o stress que sofreu.
Juma morreu por estar onde não deveria estar. Os cidadãos que morreram e mortos dividiram, estendidos na areia, o espaço da praia com peladeiros em pleno bate-bola, também não deveriam estar onde estavam, durante a ressaca – confiaram em uma obra de engenharia nacional…
Quantos mais serão abatidos, até e durante as Olimpíadas… porque não deveriam estar onde estarão?
Esse será o legado da Rio 2016?
Ana Alencar, poeta e pedagoga, é professora da rede municipal de ensino básico de São Paulo, colaboradora do Portal Ambiente Legal
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
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