Por Pedro José Vilar Godoy Horta*
“9 de julho de 1932, o Movimento Constitucionalista MMDC que os jornalistas cravaram no Coração dos Paulistas a história para perpetuar através da ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE IMPRENSA a eterna Vitória “
No início do século XX, São Paulo crescia no setor econômico, cultural e social, afetando a imprensa que começava a apresentar progressos relevantes. O público, sedento por cultura e informações, passava a consumir cada vez mais artigos e matérias publicadas nos veículos de comunicação da época a como: “A Gazeta”, o “Jornal do Comércio”, “A Plateia”, “Folha da Manhã”, ” Folha da Noite”, “Diário da Noite”, a “Cigarra” e o “Parafuso”.
Para os jornalistas paulistanos, havia a necessidade de organizar uma entidade de classe autônoma como a Associação Brasileira de Imprensa do Rio de Janeiro. A consciência dessa nova realidade começou nas redações dos jornais, que pressionaram os editores para estabelecê-la na cidade.
Entre os anos de 1926 e 1928, alguns jornalistas, liderados pelos editores do “Correio Paulistano” Hermes Lima, Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo, resolveram criar uma entidade que, além de recreativa, cuidasse também dos interesses da classe. Nasceu então o “Retiro dos Jornalistas” entidade que não chegou a funcionar para os devidos fins, por se tratar de um clube fechado, restrito a 25 jornalistas que pertenciam ao “Correio Paulistano” jornal porta-voz do Governo de São Paulo.
Apesar disso, permanecia a perspectiva de se fundar em bases mais amplas, uma organização que unisse e defendesse os profissionais de imprensa; uma entidade independente, mantida através da contribuição dos associados.
O período de 1930 a 1932 foi um dos mais conturbados para São Paulo. Além da economia paulista ter sido arrastada para crise financeira mundial, a cidade transformou-se em um “barril de pólvora”. Após o empastelamento do “Correio da Tarde”, na madrugada de 9 de julho de 1932, iniciou-se um movimento armado, liderado por militares e civis de São Paulo, os quais pretendiam que o governo federal convocasse uma constituinte através de eleições livres e democráticas.
Jornalistas paulistas como Ibrahim Nobre, Gama Cerqueira, Altino Arantes, Francisco Morato, Júlio de Mesquita Filho, Paulo de Moraes Barros entre outros, figuraram como líderes dos revolucionários.
A história da API tem em sua medular razão de fundação lutar contra as arbitrariedades. Na sua razão de nascer e existir é que uma de suas primeiras e mais importante bandeira do seu período pré e de fundação se opor ao autoritarismo impingido pelo Presidente da República Getúlio Vargas, a famosa “Era Vargas”.Cerrou fileiras junto ao movimento armado liderado pelos formadores de opinião paulistas, dentre eles diversos jornalistas que já compunham o movimento de fundação e depois materializou-se no nascedouro da API como seus membros, que tinha como bandeira a defesa da democracia e imperiosa garantia do direito da liberdade de expressão, que ante a intransigência do Presidente Vargas acaba convergindo no movimento chamado Revolução Constitucionalista de 1932 .
A imprensa teve papel preponderante para São Paulo, o rádio e os jornais impressos foram propulsores para mobilizar a população. Aimprensa paulista mobilizou cerca de 200 mil voluntários que contribuíram com doações de ouro revertendo para o movimento revolucionário de 1932 com medicamento, alimentos, vestimentas militares e armas para que cerca de 60 mil combatentes travarem uma luta “Herculia” em face do Exército comandado por Vargas de cerca de mais de 100 mil soldados lutando contra os Brasileiros de São Paulo.
Vitoriosos no campo ideológico e derrotados no bélico, nós Paulistas tivemos a vitória na guerra que não derrama sangue e traz a efetiva mudança, assim como, o a Nobre Profissão de Jornalista que foi a convocação pelo Presidente Vargas da Assembleia Nacional Constituinte para redação de uma nova Constituição, em 1933 coincidindo o ano com um congresso de jornalismo em São Paulo que fecunda o embrião que gerou o nascimento da API . O texto da Constituição seguiam os princípios liberais tão caros para nós jornalistas.
Em 1934, a Constituição foi promulgada com a inclusão do voto feminino, a limitação do trabalho a 8 horas diárias, a possibilidade de nacionalizar empresas estrangeiras, o direito à educação para todos, a proibição do trabalho para menores de 14 anos, férias, aposentadoria, entre outros direitos. O voto passou a ser obrigatório, direto e secreto não contemplando o direito a voto para os brasileiros analfabetos.
A independência e harmonia entre os três poderes: Executivo, Judiciário e Legislativo, bem como, a criação da Justiça Eleitoral para mediar o processo eleitoral e garantir mais transparência nas eleições foram vitórias perpetuadas em nosso ordenamento jurídico constitucional.
Além da convocação de eleições gerais com voto popular em 1933, os produtores paulistas progrediam com a vasta produção algodoeira, citrícola e expansão industrial, iniciando uma fase de ascensão econômica no Estado de São Paulo.
Junto com as melhores perspectivas daquele ano, surgiram diversas entidades que passaram a influir na elevação da vida social e cultural da cidade paulista. Entidades como: a “Bandeira Paulista de Alfabetização” fundada pela educadora Chiquinha Rodrigues, a “Sociedade dos Amigos da Cidade” do grupo liderado por urbanistas como Prestes Maia, Machado de Campos, Anhaia Mello, Ubaldo Caiuby e Valencio de Barros. Naquela mesma época surgiu a Escola de sociologia e Política que mais tarde foi incorporada à USP e a Escola Paulista de Medicina que passou a pertencer `a PUC.
No final do ano de 1933, foi realizado em São Paulo um importante congresso de Imprensa. A repercussão desse congresso, desencadeou o processo de criação da sonhada associação. Nascia assim, a Associação Paulista de Imprensa, a primeira entidade destinada a unir empresários e jornalistas em uma agremiação que tinha como principal objetivo, defender os interesses de toda classe. Concepção do meio intelectual e jornalístico da época, a Associação Paulista de Imprensa foi a consequência da atuação de mais de cem anos da atividade de imprensa.
Neste cenário histórico e se valendo dos valores que a Revolução de 1932 nos legou é que o Doutor Sérgio de Azevedo Redó, atual presidente reeleito, assumisse o desafio a presidência com a missão de reerguer e readequar a entidade aos tempos e ferramentas atuais sem se esquecer da memória histórica da API defendo as bandeiras de sua fundação.
E desde a sua posse até os dias de hoje, a API é uma entidade, com seu Estatuto Social totalmente reestruturado, contando com os 69 membros entre Vice Presidentes, Diretores e Conselheiros (Deliberativo e Fiscal) criou todas as diretorias para ir ao encontro da modernidade e do alcance as necessidades da entidade, contando com o irrestrito apoio desse 69 profissionais da comunicação de São Paulo, responsáveis pelo sucesso desta administração.
Foi criado há cinco anos o Programa Sala de Imprensa comunicadores do País, além de Presidente da República, Governadores, Senadores, Autoridades Civis, Militares, Eclesiásticas e personalidades dos mais importantes segmentos da sociedade civil. Enfim um programa atual, dinâmico e voltado para o mundo moderno do empreendedorismo de resultado.
Precisamente neste ambiente que o movimento revolucionário de 1932, considerado um dos principais movimentos político-sociais do Brasil no século XX, responsável pela criação de direitos sociais, políticos e culturais até então suprimidos das constituições anteriores, é que se insere os princípios norteadores da entidade, da Presidência, Diretoria e membros da API.
A Revolução Constitucionalista de 1932 , responsável por ser o dia 9 de julho considerado feriado no Estado de São Paulo, tem o compromisso de ser muito mais que uma efeméride, uma data no calendário, para atual da gestão da API, é o momento para exaltar o orgulho e renovar os compromissos de defesa da liberdade, igualdade e fraternidade para os paulistas.
Aliada a responsabilidade pela preservação da memória dos fundadores da API que contribuíram como voluntários e combatentes, vários deles ancestrais de atuais diretores da entidade, em especial, deste subscritor deste singelo artigo, o meu tio Avô Coronel PM Manoel de Carvalho Villar que esteve com as missões francesas quando da fundação da força pública e foi um dos comandantes daquela tropa e que repousam no Obelisco do Ibirapuera, na capital paulista, ao lado das cinzas de 713 ex-combatentes e de cinco jovens mortos por causa de protestos contra o governo de Vargas, no dia 23 de maio daquele ano: Miragaia, Martins, Dráuzio e Camargo que batizam o movimento revolucionário de 1932 com suas iniciais M.M.D.C. Os jovens Martins, Miragaia e Camargo pereceram já durante o confronto. O jovem Dráusio, na data com 14 anos, morreu cinco dias depois no hospital de uma peritonite traumática, em virtude dos ferimentos. Um quinto ferido, o jovem Orlando de Oliveira Alvarenga, morreu em 12 de agosto de 1932, 29 dias após a eclosão do Movimento Revolucionário de 9 de julho de 32 após quase três meses internado no mesmo hospital e no quarto ao lado onde antes falecera Dráusio. Por essa razão não teve seu nome associado ao movimento. 2
Neste contexto histórico é que se inserem e como entidades irmãs gêmeas siamesas: ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE IMPRENSA-API e a Sociedade Veteranos de 32 – MMDC no século XXI nesta década de XX , representada pelo ilustre advogado Doutor Carlos Romagnoli seu atual Presidente da quase centenária Sociedade Veteranos de 32, juntamente com seu Vice Presidente que também é bisneto do revolucionário Orlando de Oliveira Alvarenga, neto de Geraldo Faria Marcondes e de Heber Melo Valente, um dos primeiros a ir para o mausoléu quando construído e os tios Draúsio Marcondes de Souza e o General Júlio Marcondes Salgado, o empresário Luiz Fernando Marcondes formando uma calorosa equipe trabalhando em prol dos valores e da importância histórica dos verdadeiros heróis que ostentaram a nossa Bandeira das treze listras que muito orgulha o coração dos paulistas, que em sua defesa deixaram o vermelho do sangue que marca o território brasileiro, em busca do sonho da liberdade constitucional na missão de não permitir que a chama não se apague dos valores para sociedade brasileira que a Revolução de 1932 nos deixou, ensinaram e norteiam até os dias atuais.
São Paulo, 27 de novembro de 2020
Pedro José Vilar Godoy Horta – Jornalista, Vice Presidente Diretor Corporativo e Institucional da Associação Paulista de Imprensa – API e Advogado militante, Professor de Direito Constitucional do Complexo Jurídico Damásio de Jesus, Palestrante e Conferencista em diversas instituições, foi Secretário Nacional de Cultura Adjunto do Governo Federal.
Bibliografia:
1-Site da API – https://www.apisp.org.br/historia/
2-Abreu, Alzira Alves (2015). Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930). Rio de Janeiro: CPDOC FGV. ISBN 978-85-225-1658-2
Fonte: o autor
Publicação Ambiente Legal, 11/07/2021
Edição: Ana A. Alencar
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