Não morremos nem pelo fogo do fim do mundo anunciado e nem pelo medo, e estamos aqui para contar a história
Por Cândido Vaccarezza*
Desde aquele tempo, contemporâneos da cultura Clóvis, que povoou a América do Norte depois da última glaciação, devem ter presenciado e sofrido com um tipo de furacão que, quase todos os anos, assola a Flórida e todo o sudoeste americano.
Neste mês de outubro, ele, o Milton, chegou com ventos superiores a 200 km por hora, precedido por outro que já havia matado mais de 200 pessoas, o Helene, na segunda quinzena de setembro.
Muitos anunciaram, sem base científica e escandalosamente, que tratavam-se de fenômenos inusitados, frutos do aquecimento global, portanto, sem solução à vista, e que a escala Saffir-Simpson deveria ser mudada, pois o Milton iria, ao chegar na costa, ultrapassar o nível 5, o maior desta escala; seria arrasador e os futuros furacões seriam até piores.
Lembrei-me de quando eu era menino no sertão da Bahia. Muitas pessoas, do nada, anunciavam o fim do mundo para daqui a alguns dias e muitos morriam de medo, inclusive eu. Tanto eu como os outros não morremos nem pelo fogo do fim do mundo anunciado e nem pelo medo, e estamos aqui para contar a história.
Não podemos banalizar estes fenômenos climáticos e muito menos os prejuízos com as centenas de mortes que o Helene e o Milton causaram. Sofremos e, por empatia, somos solidários com as pessoas que passaram por estas tragédias. As cenas são indescritíveis e qualquer ser humano ao se colocar no lugar do próximo sofre junto.
São chamados de furacão os ciclones tropicais que se formam no Atlântico e no Pacífico nordeste, com ventos acima de 119 km por hora e com diâmetro de centenas de quilômetros.
São designados de tufão os ciclones formados no Pacífico noroeste, que atingem o Japão e países da região. Já o tornado é formado em terra, é uma coluna de ar rotativa, com ventos extremamente fortes. Além destes, temos outros fenômenos naturais, como as tempestades tropicais, ciclones tropicais com ventos de intensidade que variam entre 62 e 118 km/h.
Os furacões passaram a ter nomes de pessoas para facilitar as suas identificações e a comunicação com a população; anteriormente eram divulgadas as localizações geográficas, mas a partir de 1953 foi generalizada, pelo governo americano, a denominação – inicialmente com nomes femininos e posteriormente também com masculinos.
À Organização Meteorológica Mundial (OMM) cabe definir um nome para cada furacão. Independentemente do nome definido, desde a chegada de Colombo ao Caribe em 1492 temos notícia destes eventos, em geral, os formados no Atlântico, que acontecem entre 1° de junho e 30 de novembro.
Estou entre as pessoas que defendem que os países deverão estudar os efeitos climáticos e estabelecer medidas, baseadas na ciência, para mitigar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Esta não pode ser uma discussão simplória, ideologizada, ou, infelizmente, como vem acontecendo, financiada a partir de interesses comerciais de grandes potências que, com seu desenvolvimento já estabelecido, querem impedir o desenvolvimento dos demais países, em particular do Brasil. Mas isto é tema para outro artigo.
Voltando aos furacões, ainda não existe consenso entre os cientistas que o aquecimento global seja o responsável pelos danos ou pelos próprios furacões, apesar de a mídia mundial dar destaques a uma parte de estudos que apresenta o aquecimento global como responsável pela intensidade e a quantidade de furacões, questão ainda passível de comprovação científica.
No Estado da Louisiana (EUA) tivemos em 1856 um Furacão que matou 400 pessoas, em 1893 outro que ceifou 1400 vidas; em Galveston, Texas, em 1900 morreram entre 8 mil e 12 mil pessoas. Se compararmos o número de habitantes da época com o atual teremos a dimensão do tamanho da tragédia.
Estes eventos climáticos, anuais, levaram os EUA, e outros países, a desenvolverem estruturas para defender a população antes de a catástrofe acontecer. Apesar disso, ainda existem pessoas que não seguem as orientações das autoridades que cuidam da defesa civil, que se aproveitam da tragédia para tirar vantagens e outras que difundem ideias falsas, chamadas modernamente de fake news, como vimos acontecer recentemente durante o furacão Milton e Helene. É uma lástima, mas é assim o mundo. Felizmente, a maioria segue a civilização e não a barbárie.
A importância de nós, no Brasil, discutirmos os furacões da América do norte e central, é de nos prepararmos melhor para enfrentarmos as intempéries climáticas, que nos atingem ao longo de milênios e que tendem a aumentar com o crescimento da população e da atividade industrial.
A solução para esta situação não pode ser reduzir a população humana, deixar tudo como está, ou reduzir a atividade produtiva.
O caminho a seguir, a humanidade já encontrou há muito tempo. Inicialmente com a agricultura e seu desenvolvimento posterior – deixou de ser a coivara que queima a terra e passou a tratar o solo com melhoramentos das sementes e aumentar a produção; passou também a produzir cada vez mais em menores áreas, e fornecer mais alimentos para uma população que cresce em larga escala. Já estamos na 4ª revolução industrial, com modificação substancial e incorporação de novas tecnologias para produzir muito mais com menos agressão ao ser humano e ao meio ambiente.
Os avanços tecnológicos e científicos além de civilizatórios, são o caminho para enfrentarmos os desafios climáticos do universo que vivemos.
Como diz o poeta:
“Você quer parar o tempo.
O tempo não tem parada.
O tempo em si não tem fim,
Não tem começo.
Mesmo pensando ao avesso,
Não se pode mensurar”
(Alceu Valença)
*Cândido Vaccarezza é Médico ginecologista formado pela Universidade Federal da Bahia. Foi membro do Partido dos Trabalhadores (PT) de 1981 até 2016, sendo deputado estadual do Estado de São Paulo e, posteriormente, Deputado Federal, tornando-se líder do partido e líder dos governos Lula e Dilma, na Câmata Federal. Atualmente integra os quadros do Partido Avante. É analista político e colunista de órgãos de imprensa.
Fonte: The Eagle View
Publicação Ambiente Legal, 02/11/2024
Edição: Ana Alves Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião dessa revista, mas servem para informação e reflexão.