Por Danielle Denny
A FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, uma empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia irá conferir R$ 227 milhões em crédito ao CTC – Centro de Tecnologia Canavieira para colocar à disposição do mercado novas fontes de biomassa (bagaço e palha) e novos usos para ela e variedades de cana-de-açúcar com uma genética superior. Além disso, o CTC irá iniciar o conceito da biorrefinaria para produção de biobutanol, importante produto químico, feito a partir dos açúcares da cana, com diversos usos inclusive com o potencial de ser um “super combustível”.
Segundo Rubens Machado Júnior, vice-presidente de operações e tecnologia da DuPont para América Latina, o biobutanol é obtido a partir da fermentação de uma matéria-prima, que pode ser cana-de-açúcar, beterraba, trigo, milho ou mandioca. A diferença é que sua molécula possui dois carbonos a mais que o etanol. “Por causa disso, o biobutanol tem potencial de energia 20% maior que o etanol e apenas 5% inferior ao dos combustíveis fósseis”.
Segundo o CTC, seu histórico de inovações já gerou ganhos de mais de R$ 500 bilhões para a indústria sucroenergética nacional nos últimos 40 anos. Só nos últimos seis anos foram depositadas 22 patentes.
O financiamento é resultado do primeiro contrato do PAISS – Plano Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico, uma parceria entre a FINEP e o BNDES, lançada em março de 2011, que consiste na seleção de planos de negócios e fomento a projetos que contemplem o desenvolvimento, a produção e a comercialização de novas tecnologias industriais destinadas ao processamento da biomassa oriunda da cana-de-açúcar, com a finalidade de organizar a entrada de pedidos de apoio financeiro no âmbito das duas instituições e permitir uma maior coordenação das ações de fomento e melhor integração dos instrumentos de apoio financeiro disponíveis.
O programa vai disponibilizar recursos da ordem de R$ 1 bilhão, que serão aplicados de 2011 a 2014. Foram recebidas inicialmente 57 Cartas de Manifestação de Interesse e selecionados 35 planos de negócios de 25 empresas. A partir daí, BNDES e FINEP elaboraram Planos de Suporte Conjunto para cada um dos planos de negócios selecionados. Dos planos selecionados, 13 são voltados a pesquisas tecnológicas no setor de etanol a partir de celulose (o etanol de segunda geração), 20 para o desenvolvimento de novos produtos, e dois em gaseificação. O segmento de novos produtos, destinado a agregar valor à biomassa da cana, abrange desde intermediários químicos a plásticos biodegradáveis, passando por novos biocombustíveis, como diesel, butanol e querosene de aviação.
De acordo com José Gustavo Teixeira Leite, CEO do CTC, a iniciativa da FINEP e do BNDES foi muito importante, ao disponibilizar recursos para pesquisa relacionada ao setor sucroenergético num momento de dificuldades e luta para manter a competitividade brasileira, frente às alternativas encontradas em outros países, como o etanol de milho, nos Estados Unidos, e o açúcar de beterraba, na Europa.
O Brasil é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar do planeta, sendo responsável por 25% da produção mundial de açúcar e etanol, exportando aproximadamente 50% do açúcar e 20% do etanol comercializado no mundo. Além disso, é um dos poucos países que possui disponibilidade de grandes áreas para plantio. Incentivos para o desenvolvimento tecnológico dessa área são, portanto, estratégicos para a economia nacional no longo prazo.